quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Fator Ego - David Marcum e Steven Smith



As investigações sobre os componentes emocionais envolvidos nas relações de trabalho sempre me instigaram, me provocando os sentidos. Penso constantemente na atuação de nosso ego nas entrelinhas de nossa comunicação, o que me faz crítico de certas técnicas e metodologias de desenvolvimento pessoal que desconsideram tais componentes. Assim, certa vez ao passear pela livraria, me deparei com esse título e não pude deixar de avaliar. Afinal de contas, minhas inquietações já estariam expressas e organizadas numa pequena publicação?

Sem pensar, comprei e li. Aqui então apresento “O Fator de Ego”, de David e Steven, discorrendo sobre a potência muitas vezes dominadora da “egonomia” nas relações pessoais no ambiente de trabalho. A obra foi estruturada a partir de 4 sinais de perigo relacionados a atuação poderosa desse nosso velho conhecido. São eles: 1) Ser comparativo; 2) Ser defensivo; 3) Exibir Superioridade e; 4) Buscar Aceitação. Indo além, traz ainda reflexões interessantes sobre a importância do equilíbrio, destacando propriedades poderosas entre os extremos da atuação do ego: Humildade, Curiosidade e Veracidade.

De leitura fácil e rápida, aborda o tema de forma reflexiva e, ao mesmo tempo, prática. Cita diversos exemplos e, principalmente, convida o leitor a se posicionar frente ao texto que, obrigatoriamente, nos faz refletir sobre nossa atuação e os extremos a que chegamos sem perceber os domínios da egonomia.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Fora de Série - Malcolm Gladwell


Muita gente se pergunta porque algumas pessoas alcançam feitos notáveis e outras não. As respostas giram em torno de talentos naturais, como se esses nascessem predestinados a atingir feitos extraordinários. Resposta dos invejosos?

O jornalista e colunista do jornal The New Yorker resolveu pesquisar o tema e ir mais a fundo na trajetórias dos notáveis para tentar responder a questão do por que algumas pessoas têm sucesso e outras não. Passando por Mozart, Bill Gates, Beatles e outros o autor encontrou uma lógica mais fascinante do que as hipótese populares.

Certamente, vários fatores colaboraram para muitos desses gênios dos negócios, esportes, artes e etc., mas com dois pontos de destaque: ninguém se faz sozinho é um deles. O outro ponto trata de um numero cabalístico: para alcançar um nível de excelência em qualquer atividade são necessários nada menos do que 10 mil horas de pratica - o equivalente a três horas diárias durante 10 anos.

O autor de O Ponto de Desequilíbrio e Blink: A decisão num piscar de olhos pesquisa sobre a vida dessas pessoas com o objetivo de entender como elas pensam, sua origem, condições de vida e cultura escrevendo de forma agradável e envolvente. Impressionante como a matemática das 10 mil horas fica clara nas historias desses talentos.

Sem duvida, vale muito a pena!!



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Qual a tua obra?


Para quem conhece Mário Sergio Cortella sabe da qualidade de sua produção, de sua trajetória profissional impecável como professor e palestrante. Seus livros são muito agradáveis e acessíveis ao grande publico, pela facilidade da leitura e profundidade dos temas.

Costumo indicar esse livro sempre nos trabalhos de liderança e coach como um certo guia reflexivo sobre postura e trajetória de vida. Com muito talento Cortella aborda questões de vida relacionadas com o universo do trabalho se utilizando da filosofia como pano de fundo.

Certamente suas reflexões o farão pensar e repensar seu modo de agir e sua ação no mundo. Afinal de contas, existe algum motivo para se viver a vida? O que a realização de sua obra teria com isso?

Agradável leitura e uma aula de vida frente as demandas de um mundo cada vez mais complexo e desafiante.

Coaching Executivo




Vicky Bloch é uma das mais conceituadas profissionais na área de coach e desenvolvimento de pessoas para o mercado de trabalho. É leitura fundamental para o profissional que atua no segmento ou mesmo para o executivo que atua no mercado corporativo.

Juntamente com seus colegas, ela aborda questões fundamentais sobre o trabalho de coach executivo de forma clara e objetiva, demonstrando detalhadamente seu método de trabalho.

Muito da literatura na área costuma focar mais a postura profissional e demonstrar menos métodos e técnicas. Nesse livro, essa lacuna é preenchida e com muita qualidade. 

Não espere encontrar uma formula generalista e preste atenção ao tema do livro, pois os autores focam o universo corporativo. Ideal para coachs e profissionais que pretendem crescer na carreira através do desenvolvimento pessoal.

 

domingo, 1 de maio de 2011

Os afetos necessários

Na era da pós-modernidade, onde o laço social das identificações é predominantemente horizontal, nos damos conta que o principal afeto, o mais fundamental afeto, é o da amizade.(Jorge Forbes)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Comunicação para Liderança

gambaruDurante minha trajetória tive a oportunidade de ler vários livros indicados por pessoas que admiro e respeito. Num deles, um romance por sinal, trata da capacidade do ser humano de superar adversidades e crescer - fazer sucesso. Escrito pelo paulistano Claudio Ayabe, “Gambaru – O Poder do Esforço e da Perseverança”, mistura ficção e realidade para mostrar a filosofia de vida dos Samurais aplicadas aos dias de hoje. Conclusão: sempre que posso, indico sua leitura.

coração falarAssim, nessa virada de ano, fiz uma verdadeira arrumação no escritório e separei alguns livros que deveria ter lido e não li em 2010. Foi ai que me deparei com o segundo livro do Claudio chamado “Façã seu coração falar”, que trata sobre comunicação e oratória. Tema muito pertinente não somente pelos eternos problemas de comunicação que enfrentamos, principalmente nas organizações, como também matéria importante para quem se atreve a ser palestrante e educador. Decidi ler esse livro já, ainda mais por ter tido a oportunidade de conhecer o Claudio, estar presente na noite de autógrafos e trocar poucas e boas . Pois bem, nunca se é velho  demais para a leitura e nessa semana li com carinho esse novo livro do Claudio, publicado em 2008. Como imaginava – também o recomendo!!

Mas, o que me motivou relatar aqui essa experiência foi o seguinte trecho, retirado do capítulo “ Comunicação dos Grandes Líderes”: “13 mandamentos da liderança eficaz”. Achei interessante e gostaria de compartilhar. Vamos lá, um resumo dos mandamentos:

1) Converse com as pessoas: O melhor discurso é aquele dirigido diretamente ao receptor, numa relação franca e próxima. Converse com todos na empresa sem discriminação e assim irá conhecer sua cultura na realidade;

2) Saiba ouvir: ninguém será um bom gestor se não for capaz de ouvir seu time;

3) Realize sessões de troca de experiências: permita-se trocar pontos de vistas;

4) Essa história de não trazer problema de casa para o trabalho é utopia: não finja que nada está acontecendo e aja com amadurecimento;

5) Cobre: não seja ingênuo - seja justo;

6) Controle a euforia: tenha os pés no chão;

7) Controle o pessimismo: notícia ruim não precisa  de pânico. Pense antes;

8) Fale de modo diferente com homens e mulheres: procure entender as demandas masculinas e as sensibilidades femininas;

9) Perceba os códigos existentes em cada grupo: aprenda a lidar com a diferença;

10) Jamais crie estigmas: procure saber o que ocorre com as pessoas, se estão nos lugares certos e se tem outros talentos a revelar;

11) Arrogância não: fale de acordo com o público, seja comprometido com o trabalho e não com seu ego;

12) Adapte-se aos mais jovens: a comunicação com os mais jovens deve ser mais pessoal e menos rebuscada;

13) Consulte o coração ao falar: ele será o seu guia – ouça-o.

 

Ok?! Para aprofundar, vale a leitura. De qualquer forma, é um resumo interessante e muito importante na arte da comunicação.

Se quiser conhecer o Claudio, veja uma entrevista dele sobre a arte da comunicação:

 

Abraços!!!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Palestra no IOS em Dezembro/2010

Para aqueles que se dedicam, todo esforço sempre vale a pena. Após grandes desafios, é natural ter a sensação de que a vitória parece um sonho e que os arranhões adquiridos ao longo do caminho já não doem mais. Na formatura realizada para os alunos do IOS do segundo semestre de 2010, porém, foi mais que uma impressão. Participar de um evento tão aguardado trouxe a certeza de que dedicação e força de vontade são os requisitos básicos para se chegar longe. E, ao longo da celebração, muitas foram as provas disso.

No Clube Associativo dos Suboficiais e Sargentos da Aeronáutica de São Paulo, o clima do dia 19 de dezembro foi de muita festa, no melhor estilo baile de gala. Depois da entrada triunfal dos alunos, percorrendo todo o salão principal, bem como dos professores, a Presidente do IOS, Rosane Chene, deu início à cerimônia. Partilhando do sentimento de realização que tomava conta dos jovens, declarou: “A gente conseguiu mais um passo!”, aproveitando para parabenizar igualmente os pais e familiares presentes. Ao pedir aplausos à equipe de professores que também foi responsável pelo sucesso daquela trajetória, todos se levantaram para atendê-la com a honra devida aos docentes.

Para que tal homenagem fosse completa, a Presidente convidou ao palco a Instrutora de TI que mais se destacou dentre as Unidades. Justamente por não amarrar suas lições apenas à técnica, mas “Contagiar seus alunos a irem até a comunidade e ver o que ela precisava”, segundo Rosane, Priscilla Feraretti foi eleita a representante unânime de todas as classes e, em seu discurso, confirmou o êxito:

“Eles percorreram comunidades ajudando pessoas carentes. Não levaram só doações, mas amor, carinho e calor humano. Hoje, não são apenas jovens prontos para o mercado de trabalho, mas jovens com responsabilidade social”.

Rosane, ainda, apresentou paralelos entre as turmas de 2010 e as do ano anterior, evidenciando a triplicação da empregabilidade dos jovens IOS e os lembrando da grande responsabilidade que se iniciava naquele momento: “Foi só o término de uma fase. Agora, inicia-se outra: coloquem o conhecimento adquirido em prática”. Em um gesto comum à época natalina, presenteou os formandos com orientações muito especiais:

Disciplina, já que “Tudo que nos propomos a fazer temos de fazer da melhor forma”; Amizade, pois “Com amigos e família, ela se torna um pilar muito grande”; Otimismo, que “Traz um bem enorme, espanta a tristeza, não nos deixa desistir e contagia a todos”; Trabalho, afinal “Trabalhar é tirar uma ideia da cabeça e pô-la em ação”; Perseverança, porque “É muito difícil que aquilo em que acreditamos fique perfeito da primeira vez”; Responsabilidade, para lembrar que “Tudo que a gente faz deve ser com respeito a tudo e todos”; Coragem, “Principalmente no mundo de hoje, quando é preciso coragem até para dizer não – às drogas, ao preconceito, à corrupção”; Generosidade, para se “Estar sempre pronto a estender a mão e doar sempre o seu melhor”; e, por fim, uma porção bem grande de Gratidão: “Nunca se esqueçam de agradecer. Sentimos-nos melhor quando somos gratos”.

Nesse momento, a Presidente solicitou que os alunos agradecessem uns aos outros e até por aquilo que não possuem, além de um reconhecimento verdadeiro a Deus: “Não tem preço acordar todos os dias e ter a chance de fazer tudo melhor. Se cultivarem esses presentes estarão sempre prontos”.

A palavra foi passada ao Vice-presidente de Atendimento e Relacionamento da TOTVS, Wilson de Godoy, que contou, brevemente, a história da instituição, resumindo-a conscientemente na frase: “Dizer que somos generosos é muito egoísmo, pois recebemos muito mais do que fizemos”. Wilson não se esqueceu de aconselhar os formandos: “Não imaginem que as coisas vão cair no colo de vocês: é tudo muito difícil”. Longe de parecer rude, o Vice-presidente foi realista e sincero. E, se alguém teve dúvidas quanto a isso, a palestra motivacional com o Psicólogo Maurício Franklin trouxe a confirmação.

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Os formandos IOS não deveriam esperar por palavras utópicas sobre o mercado profissional nem uma fábula do emprego ideal. Desde o início, Maurício deixou claro que nunca se deve deixar de acreditar. Mas, que, enquanto isso, é primordial batalhar. Ao longo de sua exposição, citou personalidades célebres – desde o menino que virou rei, Davi, até Mark Zuckerberg, o criador da rede social Facebook. Apresentando uma curiosa pesquisa norte-americana, fez notar que 87% dos medos enfrentados pelas pessoas não possuem fundamento e que isso se deve à mudança que a sociedade vem sofrendo, onde os bens são descartáveis, compram-se sentimentos e a estrutura familiar está totalmente repaginada. O conhecimento, entretanto, continua – e com ainda mais força – o único item a sobreviver às gerações.

Um dos pontos culminantes de sua palestra foi a exibição do vídeo Did you know (2008), onde fica clara a necessidade de se tomar atitudes pessoais diante do crescimento mundial – nem sempre representando evolução – em paralelo com a perda de noção do tempo. “Dá para ficar parado?”, questiona o psicólogo, já sugerindo a resposta: “Custa caro ficar parado. Custa nossa vida”. A constatação, vale lembrar, não é apavorante. Ao contrário: os formandos IOS aprenderam lições valiosas antes mesmo de vivenciá-las, mesmo sabendo que, segundo um provérbio citado por Maurício, “Quando se busca o cume da montanha não se dá importância às pedras no caminho”.

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O último a subir ao palco e conversar com os formandos foi, possivelmente, uma das presenças mais aguardadas. Ernesto Haberkorn, Sócio Fundador da TOTVS, anunciou os sete primeiros colocados gerais dentre as Unidades IOS de São Paulo, e solicitou a cada um que descreve seus planos futuros e o sentimento por fazer parte de tão seleto grupo. Emocionada, a primeira colocada, Beatriz de Deus Grotto (Vila dos Remédios), mal acreditava na conquista: “Esforcei-me, estudei, fui atrás e não desisti: foi o que eu fiz”. A segunda colocada, Angélica Adriano Pio da Silva (Jabaquara), compartilha o raciocínio: “Para cada etapa terminada, começa outra”. Em busca da realização dos sonhos estavam as terceira e quarta colocadas, respectivamente, Ritielle Moraes Pereira (Santana) e Ana Beatriz Minervino Bataglin (Lapa). Guerreiro, o quinto colocado Marcus Vinicius Eugênio (Santo Amaro) afirma que objetiva “Vencer na vida”. E os sexto e sétimo colocados, Jessica Silvestre da Silva (Itaquera) e Élisson Gonçalves dos Santos (Diadema), dão a receita do sucesso: “Nunca parar de estudar”, segundo ela, e “Conhecimento”, para o jovem.

Encerrando a solenidade com a música Heal the World, de Michael Jackson, o IOS lembrou aos futuros profissionais o poder que cada um possui para curar o mundo e transformá-lo em um lugar melhor. Durante o baile, pais, familiares e os próprios formandos contaram ao blog sobre a alegria por mais uma realização. Um deles foi Marcus Vinicius, um dos primeiros colocados. Embora ainda sem acreditar em tudo quanto estivesse vivendo, sabia o quanto era recompensador. Sua mãe, Silmara Porfírio, foi uma de suas principais incentivadoras: “Que ele tenha fé, garra e coragem para seguir estudando”. Traço peculiar da família, o talento para se destacar também se fez presente em sua prima Angélica, que ficou em segundo lugar geral. Para a mãe da jovem, Nelma Adriano Pio da Silva, “Valeu a pena o esforço de viajar duas horas para ir e duas horas para voltar do IOS. Que ela continue assim!”. Muito orgulhosa, a avó dos dois formandos, Iraci Bonifácio Porfírio, também registrou sua satisfação: “Outras formaturas virão, mas o IOS foi a melhor coisa que aconteceu na vida deles”.

Para Camila Galani, ex-aluna IOS, todo esse apoio é fundamental. Formada em junho pelo Instituto, mas já contratada pela TOTVS desde maio, a jovem realizou seus sonhos porque sempre acreditou em si mesma. Hoje, transmite essa energia aos alunos, estimulando-os a não desistirem: “Nunca parem. Quando comecei o IOS, já tinha o desejo de trabalhar na TOTVS. Por isso, se querem conquistar um objetivo, foquem nele. Quando conseguirem, foquem em outros”. Além das conquistas profissionais, o Instituto também oferece a oportunidade de construir grandes amizades. Maicon Rogério de Andrade (Diadema), colega do sétimo colocado geral, Élisson, comenta o fato: “O IOS ensinou coisas que eu não sabia, trouxe amizades ótimas e mais capacitação”.

É por isso que, ano após ano, o sucesso do Instituto da Oportunidade Social tem se solidificado gradativamente. Aqui, alunos formam bagagens que levarão para toda a vida, carregadas de conhecimento, valorização, amizade, cidadania. O ponto de chegada deles não são nossas salas de aula, mas o futuro que sempre sonharam. Parabéns, formandos IOS!

http://blog.ios.org.br/

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

“O que será, o que será?” (a repetição “eterna” do sofrimento?) – uma visão psicanalítica

Sempre me causou espanto o fato de muitas pessoas se tornarem verdadeiras especialistas em sofrimento ou, de outra forma, de se colocarem em situações de perpetuação de angústias e dor. O que será que dá nas pessoas? Um exemplo clássico está naqueles que particularmente buscam prazer na dor física, que encontram satisfação atacando o próprio corpo de forma violenta, muitas vezes com objetos cortantes para obtenção de prazer. Além destes, não fica difícil reconhecer o quanto o sujeito dito normal também não pratica a busca de satisfação através do sofrimento, seja submissões simples ou perversas, mas constantes fantasias. Quem nunca se sacrificou para obtenção de um bem maior no futuro, para atingir um objetivo, que atire a primeira pedra. Afinal, parece que tudo que vem suado é mais gostoso, não?! Seria este também um sinal de um masoquismo constituinte, de uma tendência do neurótico, que precisa dar conta de algo inconsciente através de justificativas falíveis?

Incontáveis são os exemplos de vida onde a dor e o sofrimento se fazem presentes, numa dialética de amor e ódio, prazer e dor, com o sentido de obter outras satisfações, aparentemente uma satisfação por alívio, por descarga. Hoje, ao entrar numa Universidade, vejo mais idosos e aposentados se esforçando para estudar, sacrificando suas vidas em rotinas das mais estressantes, onde não haveria necessidade alguma. Aposentados, poderiam desfrutar mais de suas vidas em atividades prazerosas e divertidas já que “tinham feito a sua parte”. Se não há mais necessidade desse tipo de sacrifício, necessidade de busca pela sobrevivência, por que então escolher um caminho difícil de um estudante? E os analistas e psicólogos que escolheram como forma de viver ouvir inúmeros relatos de sofrimento, perdas e desesperos, dia após dia, por horas infinitas. Mesmo aqueles que não lhes infringe qualquer tipo de castigo físico, como que por obra do azar, com freqüência se aproximam de situações de humilhação e maus tratos e sem conseguir se safar delas. Uma aflição medonha nos faz implorar?

“O homem é o animal mais cruel contra si mesmo;

e, em todos os que se dizem “pecadores” e “penitentes”

e “portadores de cruz”, não vos passe despercebida

a volúpia que há nesses lamentos e acusações!”

F. Nietzsche, Assim falou Zaratustra

De alguma forma, parece que o sujeito é constituído de certa dose de masoquismo, como fundante do psiquismo, que o orienta nessas direções. Partindo da teoria psicanalítica, a questão do masoquismo foi aparecendo e se estruturando em primeiro plano durante a obra de Freud.

“Cada recém-chegado ao mundo está imbuído do dever de consumar o Complexo de Édipo; quem não consegue está fadado a neurose. [...] Na raiz de todo sintoma, encontramos impressões traumáticas que tem origem na vida sexual infantil.”

S. Freud

Em 1915 em Instintos e suas Vicissitudes, Freud traz a idéia de que o masoquismo estaria presente na psique humana em decorrência de um sadismo vivido através de um sentimento de culpa movido a satisfação sexual.

“A psicanálise pareceria demonstrar que infligir dor não desempenha um papel entre as ações intencionais originais do instinto. Uma criança sádica não se apercebe de que inflige dor ou não, nem pretende fazê-lo. Mas, uma vez ocorrida a transformação em masoquismo, a dor é muito apropriada para proporcionar uma finalidade masoquista passiva, pois temos todos os motivos para acreditar que as sensações de dor, assim como outras sensações desagradáveis, beiram a excitação sexual e produzem uma condição agradável, em nome da qual o sujeito, inclusive, experimentará de boa vontade o desprazer da dor.”

Presente nas relações do triangulo amoroso do Complexo de Édipo, Freud notou não somente o funcionamento dessa particularidade masoquista nos seres humanos, como postulou uma necessidade desse sofrimento para que a civilização se estabelecesse. A interdição do Pai como instaladora da cultura. Aqui, atitudes ambivalentes da criança, de amor e ódio, de desejo e medo, em relação aos que ama e depende, se desdobrará no aparecimento da personalidade deste futuro adulto como prolongamento dessa neurose infantil chamada de Complexo de Édipo. A ênfase se dá na possibilidade de realizações de desejos – “incestuosos” – ou na evitação dos mesmos. Nascemos, portanto, especialmente “codificados” através da relação com os pais cujo resultado certamente instala a neurose que, de forma patológica, torna-se fóbica, obsessiva ou histérica.

“O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo”

O que dificulta o entendimento de uma tendência masoquista é justamente a concepção de que os processos psíquicos são orquestrados pelo Princípio do Prazer, partindo do princípio econômico de regulação da tensão em seu nível mais baixo. Prazer é não ter variação de tensão num princípio de constância.

“A tendência dominante da vida mental e, talvez, da vida nervosa em geral, é o esforço para reduzir, para manter constante ou para remover a tensão interna devida aos estímulos (o ‘princípio do Nirvana’)”

Além do Princípio do Prazer (1920)S. Freud

Partindo de observações das brincadeiras com seu neto, dos sonhos traumáticos de guerra e da transferência em análise, Freud percebe uma compulsão do ser humano em repetir algo do desprazer. Assim, no jogo do Fort Da a criança repete a experiência dolorosa do afastamento da mãe; nos sonhos se atualizam a situação traumática repetidamente; na transferência o paciente repete situações penosas ao invés de rememorá-las. Nesse trabalho, muda sua concepção anterior e apresenta as pulsões de vida e morte, que passam a dirigir o funcionamento psíquico. Assim coloca que tudo o que vive há de morrer e que, dessa forma, o ser humano teria como objetivo a morte.

“Se tomarmos como verdade que não conhece exceção o fato de tudo o que vive morrer por razões internas, tornar-se mais uma vez inorgânico, seremos então compelidos a dizer que ‘o objetivo de toda vida é a morte‘, e, voltando o olhar para trás, que ‘as coisas inanimadas existiram antes das vivas‘.”

Além do Princípio do Prazer (1920)S. Freud

Já em 1924, em “O problema econômico do masoquismo”, Freud percebe que talvez a dor e o prazer teriam um fim em si mesmo apresentando então três maneiras masoquistas distintas de se obter o prazer: através do sofrimento físico, da fantasia e a opção por um estilo trágico de se viver. Assim temos, de um lado, o masoquismo feminino e moral, como também o masoquismo erógeno que se aproxima do erotismo.

O masoquismo erógeno, caracterizado como prazer na dor, é base para as outras manifestações masoquistas. Nele encontramos o fusionamento das pulsões de vida e morte, num embate como tentativa de encaminhar a pulsão destruidora para fora. A resultante é sádica, via pulsões sexuais, e masoquista, quando parte dessa resultante fica fixada, represada, no organismo. Assim temos um masoquismo erógeno como resíduo da pulsão de morte que permanece no organismo.

No masoquismo feminino, o homem fantasia cenas de maus tratos como sintoma de uma necessidade de castigo derivado de um sentimento de culpa. Tais cenas promovem efeito prazeroso pela descarga do gozo.

Assim a ideia de um masoquismo originário se apresenta oposta da ideia de um masoquismo decorrente de um sadismo.

“A libido tem a missão de tornar inócuo o instinto destruidor e a realiza desviando esse instinto, em grande parte, para fora – e em breve com o auxílio de um sistema orgânico especial, o parelho muscular – no sentido de objetos do mundo externo. [...] Outra porção não compartilha dessa transposição para fora; permanece dentro do organismo e, com o auxílio da excitação sexual acompanhante acima descrita, lá fica libidinalmente presa. É nessa porção que temos que identificar o masoquismo original, erógeno” (Freud, 1924).

No masoquismo moral, Freud acentua a necessidade de sofrimento e dor como resultado da relação entre o Eu e o Superego. Há uma demanda incessante de castigo que remete a relação poderosa com seu pai do Édipo, bases de fantasias de espancamento por ele e desejos de uma relação sexual passiva. O sadismo do superego e o masoquismo do ego convergem para uma culpabilidade sem limite culminado numa autodestruição do sujeito por si mesmo, numa satisfação libidinal inconsciente.

Parece que são diferentes versões de tendências masoquistas presentes na constituição do ser humano. Uma vez que os seres humanos se estruturam num triangulo – Édipo – o “pai” se faz relevante na estruturação psíquica da criança. Essa ama a mãe e o pai interfere nesse amor. A interferência do pai, o limite, é o que possibilita a entrada da criança na sociedade, assim como o amor da mãe forma a base para uma vida amorosa. As falhas de resolução aqui, a ausência da castração, é que vai abrir caminho para uma estrutura perversa ou psicótica. O sujeito então, fica agarrado a idéia de objeto de prazer do outro, como objetivo de prazer original fusionado com a mãe, que não permite qualquer outra forma de afeto se não o de estar para alguém. Assim, não “conhecendo” outras formas mais saudáveis de vivência, fica preso nessa engrenagem psicológica de sua constituição, impedido de realização a não ser pelo intermédio de ser sujeitado pelo outro.

A interdição frustrante do Pai e as consequentes falhas na saída do Complexo de Édipo marcam o sujeito num ponto fixo de desprazer, que o determina e assim o joga para repetição em várias esferas de sua vida. A dificuldade se dá na exigência do psiquismo em se manter ai, constituído como via “conhecida” de representação. Assim como a criança, no exemplo do for-da de Freud, repete para dar conta da angústia, o sujeito masoquista em questão irá repetir situações de “sofrimento” até conseguir reelaborar a marca fixada, quebra-cabeça esse exaurido pela vida ou batalha dificílima empreitada no divã do analista.

Assim temos no masoquismo uma relação de repetição gozosa, orientada pela pulsão de morte, que nunca cessa de se inscrever, presente no âmago de todos os sujeitos e, necessariamente, atuando nos bastidores da clínica das neuroses.

“O que será, que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda a alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite”


REFERÊNCIAS

Freud, S. - “Além do Princípio do Prazer”

- “Uma criança é espancada”

- “O problema econômico do masoquismo”

- “O instinto e suas vicissitudes”

- “Três ensaios da teoria sexual”

Nasio. J. D. – “Édipo” – Zahar. 2007

Fenichel, Otto. – “Teoria Psicanalítica das Neuroses” – Atheneu.

Hanns, Luiz. – “Teoria pulsional na clínica de Freud” – Imago. 1999

Kury, Jorge. – “Desenvolvimentos e Psicopatologias Psicanalíticas” – Papirus. 1988

Belém, Marisa. – “Mulher no Brasil” – Escuta/Fapesp. 2000

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Seja bem-vindo Fernando Pessoa

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos antigos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia - e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."


Fernando Pessoa