domingo, 28 de junho de 2009

comentários sobre a matéria "De Volta ao Jogo" da revista VOCÊ S/A, de junho de 2009


Lendo a matéria “De volta ao jogo” na edição 132 da revista Você S/A de junho de 2009, me deparei com um pensamento insistente: O que, de fato, está em jogo, no jogo dos acertos e erros profissionais? Parece-me que o saber é o centro de tudo e esse saber deve, portanto, dar conta de tudo. Afinal de contas, se sei, não tem como errar, certo? Ou melhor, se errar, irei aprender com o erro, adquirir tal conhecimento que não tinha e assim não errarei novamente. Penso que talvez as coisas não sejam tão simplistas assim, pois a história pessoal de cada um nos remete a muitas situações do gênero, onde devemos desempenhar bem um papel se quisermos ganhar as coisas que tanto desejamos. Ah! Ai, meu Deus! As coisas que tanto desejamos? Será que desejamos mesmo não errar?

Isso me recorda a relação que as crianças pequenas tem com seus brinquedos. Rapidamente o que ela tem nas mãos torna-se desinteressante frente ao que a outra criança tem. Brigas constantes e choros convulsivos resultados dessas situações onde querem o que não tem, ou melhor, querem o que o outro quer. Ampliando: desejam o desejo do outro. Pois é, se formos mais além, veremos que não são somente as crianças que agem assim, ou você nunca ficou esperando que seu parceiro escolha o prato no restaurante para somente então você escolher o seu. Isso sem falar que desejo ter um carro mais bacana que o de meu vizinho, que eu sou o mais bonito dos meus irmãos, que devo estudar japonês, pois minha colega de equipe começou seu curso, ou..., ou..., ou muitas outras histórias menos previsíveis onde no fundo está o desejo inconsciente de agradar sempre, num desamparo avassalador que nos persegue, e sentir prazer já, pois não sabemos lidar com a angústia da espera, da maturação necessária.

No fim das coisas, o que percebo, é que travamos uma briga interna conosco mesmos, a fim de dar conta dos nossos desejos, sem saber de fato se sabemos o que desejamos. Assim, vejo desejos disfarçados na vida real que vem, acredito, justamente para parar o sujeito e que , infelizmente, acabam por atrapalhar seus caminhos na carreira. Vejam as considerações dos 11 comportamentos que potencializam os erros segundo a revista e a possíveis relações psicológicas dos mesmos:

1- Desorganização e falta de foco: insegurança crescente por desejar fazer um bom papel e assim ser reconhecido pelo sucesso; não consegue ver o todo e somente a si fracassando.
2- Resistência a mudanças: aceitar a palavra do outro é colocar em dúvida a própria competência.
3- Baixa tolerância para lidar com pressão: o aumento de pressão pode expor sentimentos primitivos, contribuindo para uma demonstração de si desajustada.
4- Pouco compromisso com resultados: o comprometimento revela valores próprios. Será isso um problema?
5- Falta de iniciativa: dar pouco valor a si mesmo.
6- Dificuldade para transmitir informações: desejo de controle como sobrevivência.
7- Foco excessivo no curto prazo: incapacidade de esperar uma melhor satisfação a longo prazo do que adiar a possibilidade de satisfação imediata.
8- Falta de criatividade: desejo em se apoiar em algo e não em si mesmo.
9- Competitividade excessiva: necessidade de poder e força, que remete a um ego frágil e pouco flexível.
10- Paternalismo ou autoritarismo: zonas de conforto que trazem segurança.
11- Falta de ética: submeto-me ao mundo, assim como o mundo deseja.

Não desejo aqui reduzir nossos problemas do dia-a-dia a fatores psicológicos obscuros. Acredito que o aperfeiçoamento profissional passa, necessariamente, pelo aperfeiçoamento pessoal e este, na maioria das vezes, fica escondido de baixo do tapete. Não demora muito, e somos então deparados com situações onde não nos sustentamos e perdemos algo, desapontamos alguém, erramos. Como disse Sysdney Finkelstein, na continuidade da matéria na revista, “As atitudes pregressas de uma pessoa são ótimas pistas sobre o que ela provavelmente fará no futuro”. Será que não tem como nos darmos conta disso antes? É assim tão difícil olhar porá o nosso passado e repensar o futuro antes de cometer os mesmo erros novamente, eternamente?

"Penso onde não sou; sou onde não penso" -Lacan