quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Narcisismo e as relações de trabalho e liderança

“Tudo quanto penso
Tudo quanto sou,
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.”

Fernando Pessoa


A atividade profissional de um cidadão captura, se não a totalidade, uma grande parte de seu tempo de vida. Homens e mulheres absolutamente entregues à rotina de trabalhos cada vez mais exigentes vão contribuindo para um aumento contínuo de doenças e desajustes emocionais, todos praticamente amparados por uma sociedade que, ao invés de promover a libertação do ser, parece sim exercer força disciplinadora sobre os corpos e espíritos onde nem as crianças se vêem livres. Parece que os interesses sociais visam mais controlar os sujeitos do que promover sua libertação, pensamento este compartilhado por Gilles Lipovetsky (2004) em “Os tempos hipermodernos”, numa busca incessante pelo poder, dinheiro e beleza em detrimento de um amadurecimento subjetivo.

Os mecanismos de controle historicamente conhecidos parecem atuar, atualmente, de forma mais subjetiva, talvez através das comunicações e tecnologias, sobre o sujeito moderno. Os sujeitos se vêem sempre a mercê dos ditames sociais sem ao menos perceber o grau de controle e direcionamento destes sobre suas vidas. Ao mesmo tempo em que vemos a valorização da autonomia e independência destes vemos também um sujeito perdido e completamente esquecido de si. Se a idéia de que o desenvolvimento pessoal, o crescimento e a felicidade passam pela projeção na carreira profissional esta, cada vez mais embasada pelo conhecimento adquirido, parece contribuir para o surgimento de um paradoxo: quanto mais se conhece, mais se aliena. Os fatos comprovam tal afirmação quando se assiste aos jornais diários ou verifica-se o quadro de internações e consultas dos hospitais e clínicas diversas. Cada vez mais as pessoas estão envolvidas em angústias, infelicidades e doenças. As situações de desestruturação humana não estão mais restritas aos menos favorecidos econômica ou intelectualmente, mas sim numa enorme massa de sujeitos, a priori, preparados para se desenvolver e amadurecer de forma saudável e, acredito, “vencer na vida”.

O paradoxo observado é, por um lado, o alcance cada vez mais facilitado do conhecimento e, por outro, a distância entre esse conhecimento e a produção de qualidade de vida. Observando a vida profissional, percebemos que a qualidade de liderar pessoas, entre outras, exercem grande influência na carreira dos sujeitos e no nível de qualidade desse profissional. Desenvolvem-se para se tornarem líderes, pois dotados dessa qualidade é que poderão subir na carreira. Nesse sentido, os crescentes investimentos das organizações, de modo geral, em cursos, treinamentos e processos de aconselhamentos em liderança mostram o grau de importância dessa qualidade na condução de uma organização. Mas, contrariando o previsível, esse esforço intelectual passa as margens da ação do ego, da influência do narcisismo impactante no modo como se tecem as relações de troca entre esses sujeitos. Tecnicamente preparados, mas emocionalmente alienados, os constantes entraves presentes no dia-a-dia do trabalhador em posição de chefia comprovam a atuação de um narcisismo mascarado de vaidade que leva, na grande maioria das situações, aos caos, ao estresse, a perda de qualidade de relacionamento, ao prejuízo e perda de tempo.

Muitos desses investimentos remetem para a idéia de um líder conectado consigo, com seu mundo subjetivo e, partindo disso, com grande capacidade de lidar com pessoas, seja direcionando ou inspirando. Mas esse esforço não consegue e nunca conseguirá atingir as potencialidades subjetivas, pois o narcisismo presente não é foco de desenvolvimento pessoal, muito menos digno de observação e cuidados.

Pois bem, esse conhecimento está sendo utilizado para uma melhor forma de viver? Será que a liderança é, por fim, uma forma de alienação dos sujeitos reféns de sua vaidade? Chama-me atenção essa específica relação visto que o ambiente de trabalho ancorado numa carreira de liderança propicia um aclaramento dos investimentos libidinais mais do que em qualquer outro lugar. As barreiras do ego estão sempre presentes no trabalho de aconselhamento profissional onde as maiores dificuldades do cotidiano de mostram intimamente ligadas às defesas pessoais e não a decisões profissionais.

Muito se investe em desenvolvimento de capital humano nas organizações e, atualmente, com um discurso aparentemente mais humanista. Qualidade de vida virou produto e a empresa entendeu isso. Com seus arsenais midiáticos produzem sujeitos desejantes com vontade de realizar mais e mais. Ao mesmo tempo, um confronto se instala entre as paredes do escritório, cujo produto é um sujeito incapacitado de agir, imerso num narcisismo alienado, cego para as escolhas dos caminhos e surdo frente ao próprio estardalhaço que cria. Afinal de contas, a cultura aponta para que todos sejam fortes, com um ego forte, certo?!
Comunicações distorcidas, posturas conflitantes, decisões arrogantes, abuso de poder e humilhação são apenas amostras de uma subjetividade enfraquecida e dominada pelo narcisismo, por um ego distônico.

Parece que o líder precisa ser quase um super-homem para conseguir desenvolver tantas qualidades e, ao mesmo tempo, conseguir ser líder de seus próprios desígnios. Questiono o quanto esse processo possa ser penoso e angustiante se este sujeito encontra-se distante de sua subjetividade, carente de reflexões e humildade para realmente “se enxergar”, e assim fazer contrapostos com os ditames sociais. Vejo barreiras e empecilhos em torno do ego, calcadas num narcisismo ciumento, que emperram esse trajeto. A liderança, se realmente pode ser desenvolvida, deve necessariamente passar pela maturidade psicológica e não relegada a padrões de comportamento. Vale aqui a questão: A análise seria uma opção necessária para os líderes?

Digo isso em virtude de um trabalho que também desenvolvo junto a lideranças nas organizações em franco crescimento. Trabalho este conhecido como Coach, focado na maturidade profissional, que procura promover melhores condições sobre a atual situação do líder e assim possibilitar uma reflexão sobre os bloqueios, medos e dificuldades que sente na condução de seu trabalho na empresa. Existem tantas dificuldades de ordem egoica na condução desse trabalho que me fez remeter as formas de funcionamento desses egos, a partir do narcisismo e o conseqüente surgimento do Ideal de eu (Ideal de ego).

Lembro-me de uma palestra com o psicanalista Joel Birman cujo tema foi “A Família Contemporânea” onde conclui que o individuo atual carece de uma dose de narcisismo por parte do trabalho de análise visto que seu narcisismo foi mal elaborado ou, melhor dizendo, sua construção foi fragilizada e que tal sujeito carece de um olhar desejante. Isso me fez pensar na vaidade presente no ambiente corporativo onde a necessidade de atenção a qualquer custo, proveniente talvez dessa falta de “narcisisação” infantil, promova um descompasso geral contribuindo para situações de estresse e angústia sem que os sujeitos de dêem conta disso. Percebe-se a atuação do neurótico, subjacente, dominado por seu ego em conflito, este com defesas constantemente armadas frente a uma “guerra” proveniente da presença do outro. Esse outro, como detentor de seus desejos, que precisar ser eliminado. Como disse Freud em Totem e Tabu, “a neurose é o preço que se paga para se sair da barbárie”. A barbárie imposta pelo escritório?

Em sua obra “Sobre Narcisismo: uma introdução”, Freud nos conduz uma conceituação particularmente interessante nesse jogo de relacionamentos: o Eu Ideal e o Ideal do Eu. Tais conceitos partem da introdução da seqüência de funcionamento libidinal caracterizadas pelas fases de auto-erostismo, narcisismo e escolha de objeto que culminam na formação de um eu ideal e ideal de eu. O narcisismo, a partir do auto-erotismo, precisa se distanciar da perfeição narcísica infantil para que se dê o desenvolvimento do eu, e isso ocorre pelo deslocamento da libido para um ideal do eu imposto em choque com o exterior. Mas apesar do distanciamento há uma tentativa de readquirir o narcisismo perdido, num movimento rumo a um novo ideal caracterizado como narcisismo secundário. Diz Freud:

“O Narcisismo do indivíduo surge deslocado em direção a esse novo ego ideal que, o qual, como o ego infantil, se acha possuído de toda as perfeição de valor... Ele não está disposto renunciar a perfeição narcisista de sua infância, e quando ao crescer se vê perturbado pelas admoestações de terceiros e pelo despertar de seu próprio julgamento crítico, de modo a não mais poder reter aquela perfeição, procura recuperá-la na nova forma do ideal do eu. O que projeta diante de si como sendo seu ideal é o substituo do narcisismo perdido na infância, na qual ele foi seu próprio ideal.”

Ou seja, o narcisismo “popular” é o narcisismo secundário, que surge a partir de um retorno da libido externa para o eu ideal do narcisismo primário. Todo o momento pulsional passa e é mediado por um ego constituído a partir desses narcisismos. O narcisismo do ego ideal é transferido para os ideais que o sujeito passará se esforçar para alcançar no futuro, numa promessa da restituição, pelo menos em parte, da perfeição narcísica perdida. E é aqui onde o sujeito para.

De acordo com Bleichmar, o narcisismo adquire uma prioridade sobre a biologia. A exigência de ser amado, exigência egóica, se desenvolve a partir de uma necessidade de satisfação narcísica. Tal necessidade de satisfação, agirá no psiquismo como uma espécie de atividade pulsional, sendo sempre convocada a ser satisfeita, acompanhando o sujeito por toda sua vida, levando-o a ultrapassar e superar as tendências pulsionais parciais.

“Originalmente, o eu é objeto privilegiado de investimento libidinal, a ponto de se constituir como o grande reservatório de libido, armazenador de toda libido disponível. Esse momento, Freud denomina como narcisismo primário. Posteriormente, o investimento libidinal passa a incidir sobre objetos (representações), o que corresponde à transformação da libido narcísica em objetal. No entanto, diz Freud, “durante toda a vida o eu continua sendo o grande reservatório a partir do qual investimentos libidinais são enviados a objetos e para onde são recolhidos, tal como um corpo protoplasmático que estende ou recolhe seus pseudópodes. O retorno desse investimento libinal ao eu, após ter investidos objetos externos, Freud denomina narcisismo secundário".

Refletindo sobre o estagio do espelho, de Lacan, a formação do eu se dá através do olhar do outro, desse outro significante. Numa metáfora do espelho, onde o bebê se reconhece a partir do olhar de si mesmo, é o “como” essa criança é olhada que contribui para a formação do seu narcisismo – inconscientemente reconhecida. Como significantes, entendemos não somente as figuras paternas, mas também todo um grupo onde, para o sujeito, se vê inserido e significado. No narcisismo primário o eu ideal é formado a partir de uma imagem, do imaginário do bebê. Após a resolução do complexo de Édipo, através da interdição do pai (Nome do Pai em Lacan), a criança passa a ter acesso a ordem simbólica, a ordem do outro.

Pensando assim, como será que atualmente esses “eus” estão se constituindo, numa sociedade marcada por tantas contradições? A ausência de significantes ou a incapacidade psíquica de se olhar parece contribuir com indivíduos carentes, dominados por “eus” desejantes. Mas, desejantes de que?

Como se percebe, parece que a presença da análise na vida dos indivíduos teria muito a contribuir com seus caminhos, pois se trataria – “no divã” - as defesas que aparecem no cotidiano, estabelecidas a partir desse ego “particularmente narcisisado”, promovendo um estado melhorado na relação do eu com o outro. Pensando em Lacan, é no simbólico, caracterizado com o narcisismo secundário que se tece as relações desejantes a partir do desejo do outro. Esse outro ficaria destituído como ameaça frente a análise e, conseqüentemente, sem necessária destruição o que possibilitaria uma visão menus cruel da realidade circundante como também contribuiria para um superego menos castrador. Deixar com o outro o que é do outro e lidar apenas com o que é próprio contribuiria para um fortalecimento de um ego mais saudável. Admitir que esse eu é incompleto é abrir mão de parte desse narcisismo para aceitar a incompletude.

Concluindo, a relação analítica tem muito a contribuir para um amadurecimento psíquico em qualquer instância e, muito significativamente, para as relações que envolvem o sujeito, o sujeito do inconsciente, com o universo do trabalho.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sonhos do avesso

"As pessoas vivem culpadas por não conseguirem gozar tanto quanto lhes és exigido. Culpadas por não alcançar o sucesso e a popularidade instantâneos, por perderem tempo em sessões de análise – culpados por sofrer. O sofrimento não tem mais o prestígio que lhe conferia o cristianismo. Sofrer não redime a dívida; ao contrário, reduplica os juros”


Maria Rita Kehl
Caderno Mais! Folha de SP. 06/09/2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Frase do momento

"O EGO é nosso sócio oculto - muitas vezes com participação majoritária"

Cullen Hightower

domingo, 19 de julho de 2009

A geração XY

A história das eras marca a presença de algo no mercado de trabalho não muito difícil de constatar: existe uma nova geração de trabalhadores nascidos no berço da globalização, do consumismo, das novas tecnologias, sem grandes bandeiras e comprometimentos. Na era digital, onde a Internet se apresenta cada vez mais acessível e rápida, essa nova geração parece que nasceu adaptada ao atual mundo veloz e de satisfações imediatas. Chamada de Y, essa geração se caracteriza pela familiaridade com as tecnologias, velocidade em suas ações e reconhecimento instantâneos. Por um lado, são fortes e boas tais características, visto que necessitamos de rapidez e desprendimento para decisões cada vez mais acertadas, encarar a tecnologia e a internet como aliadas incontestáveis e assim usufruir das “beneces” da produção de consumo. Essa geração, por outro lado, não se prende a aparentemente nada, dizem, e a falta de compromisso e tato para lidar com as outras gerações reflete um desafio enorme para as empresas e seus RHs. Afinal de contas, como manter as qualidades de todas as gerações trabalhando em conjunto com mesmos objetivos se suas personalidades estão, aparentemente, caminhando em direção opostas?

A diversidade, como bem nos mostra a vida, só traz qualidade e assim conviver com a diferença passa a ser um desafio a ser percorrido visto o crescimento pessoal que essa experiência proporciona. Se temos uma geração nova pouco tranqüila nesse “conviver” que exige, dentre outras coisas, consideração, respeito e paciência, as gerações anteriores não podem deixar de perceber que as coisas mudaram e continuam mudando a velocidades cada vez mais aceleradas. Assim, vejo que a mudanças de características entre gerações podem beneficiar e muito, não somente a organização, mas todos que nela trabalham. Afinal de contas, esse confronto possibilita o crescimento individual e profissional de seus participantes em contato freqüente e direto com novas perspectivas provenientes tanto de gente comprometida e cautelosa, como com pessoas muito ágeis e adeptas do avançar rapidamente. Se pudesse chutar, diria que o desafio atual é entender que as organizações vivem num ambiente XY e não num ambiente de confronto de gerações X e Y.

Tanto as gerações anteriores como as que ainda surgirão, irão exigir do mundo do trabalho uma maior flexibilidade e dinamismo na condução de seus objetivos. Ambas se beneficiam dessa diversidade, mas ambas enfrentam os paradigmas pessoais. Do confronto, sai a melhor resposta, e a organização ganha em administrar tais confrontos trazendo a tona os pontos positivos de cada geração a fim de se estruturar frente a velocidade de mudança do mundo pós-moderno refletido nas relações humanas presentes no ambiente de trabalho.

Resumindo: salve a geração X. Salve a geração Y. Que estejam presentes, trocando e aprendendo mutuamente. Os colegas agradecem, os objetivos também. As possibilidades se multiplicam rumo a um novo equilíbrio que pode ser saudável, menos angustiante e depressivo. Que co-existam em paz.

domingo, 12 de julho de 2009

Jim Collins e a crise "das pessoas"


Jim Collins, autor dos livros Feitas para Durar e Empresas Feitas para Vencer, está na capa da revista Exame, edição 946 de Julho de 2009. Considerado como sucessor legítimo de Peter Drucker, o maior teórico de todos os tempos, Collins discorre sobre o porquê empresas poderosas quebram e como a adversidade separa grandes líderes de executivos medíocres. Independente das considerações sobre os livros citados e alguns exemplos atuais relacionados a crise atual, a matéria apresenta algumas informações interessantes a respeito da postura profissional dos executivos por trás das organizações. Citando as últimas pesquisas de Collins para seu mais recente livro – How the Mighty Fall – , este cita 5 fases de como empresas americanas bem sucedidas fracassaram. São estas: 1) Excesso de confiança originada pelo sucesso; 2) Busca indisciplinada pelo crescimento; 3) Negação de risco; 4) Corrida pela salvação e, finalmente, 5) Irrelevância ou morte. Se observarmos com carinho as considerações de Collins sobre cada fase, perceberemos facilmente que existe um desequilíbrio nas lideranças que as levam tomar atitudes equivocadas. Parece que exagero e coragem se misturam numa visão equivocada da realidade, um embasamento seletivo da própria casa ou, se preferirem, uma falta de conhecimento sobre a própria companhia e seus colaboradores.

Pensando de outra forma, a própria desorganização externa, que está presente nos corredores internos e dados externos para quem quiser ver, se traduz como a própria desorganização interna dos líderes que, atuando por exigências equivocadas de sua personalidade, não percebem os reais destinos de suas decisões. O mais interessante, entretanto, é notar que se fala sempre que determinada empresa tomou tal atitude ou deixou de ver tal situação crítica e esquecemos que, por detrás dessa “empresa”, existe uma cultura organizacional regida por pessoas espelhadas pelas posições de lideranças de suas chefias e presidências.

Collins também identifica alguns estágios de fracassos, nivelados de 1 a 5, onde “uma empresa pode estar doente antes de aparentar fraqueza”. Apesar de suas pesquisas encontrarem retomadas extremamente positivas, ele constata que preocupação com a gestão e menos arrogância são importantes para se manter uma empresa saudável por muito tempo. Quem anda equilibrado, entendo, não precisa de medidas extravagantes e nem salvadores da pátria, mas sim foco e persistência nos valores, “refletindo e agindo com determinação”. Os extremos parecem indicar o futuro da organização, assim como os extremos na vida pessoal dos sujeitos alertam para uma calamidade anunciada.

Assim, repetimos em nossa vida profissional, a desarmonia interna existente em nós mesmos. A incapacidade de enxergar tais equívocos, dominados por forças “ocultas” irão, cedo ou tarde, se fazer presentes de forma dolorida. Os obstáculos que a vida nos proporciona são os verdadeiros testes de quanto maduro psicologicamente estamos para ter uma vida saudável e digna de ser vivida. Caso contrário, quando não aprendemos com o que está acontecendo dentro da gente, certamente, isso se refletirá fora e, inevitavelmente, de forma extremada. Aliás, se você não pára, a vida te pára, seja pelas conseqüências de tal distancia de si, seja num leito de hospital.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Trabalho em Equipe: a dificuldade em lidar com o outro reflete a falta de conhecimento sobre si mesmo.

Bem, tenho realmente pensado muito sobre os ganhos relacionados ao Trabalho em Equipe e o quanto o compromisso de pessoas com o mesmo objetivo pode realmente fazer toda a diferença em qualquer atividade produtiva. Falando assim me parece óbvia tal constatação, mas de alguma forma, temos recorrentes problemas em torno desse assunto e a necessidade de se formar pessoas com perfil de equipe parece não cessar nunca. De alguma forma, somos melhores tecnicamente do que somos em nossos relacionamentos. Nunca se falou tanto em educação e também nunca se investiu tanto em educação corporativa. As maiores e melhores empresas do mundo não investem tanto na educação de seus colaboradores a toa. Mas, afinal, o que estamos fazendo com essa educação toda se a dinâmica de se conviver com outros, na realização de projetos em equipe, continuamente se apresenta conflituosa? Parece que a educação para o relacionamento está fazendo falta, não numa perspectiva de fora para dentro, mas de dentro para fora. Como assim? Explico.

Relacionamento! Essa palavrinha traduz o sucesso ou fracasso em inúmeras situações, pessoais e profissionais, em diferentes famílias e empresas ou culturas diversas. Ironicamente não conseguimos viver sós, mas temos enormes dificuldades para estar junto. Tais dificuldades se expressam no lidar com as diferenças e esquecemos que tais diferenças é o que nos impulsionam a sermos melhores. Então está na hora de repensar nossa postura frente ao conhecimento aprendido e começar a relacionar, intimamente e humildemente, esse conhecimento com nossa personalidade. O que quero dizer é que devemos fazer uma conexão constante dos aprendizados e experiências vividas com o nosso eu verdadeiro.

Você deve estar se perguntando: Mas o que isso tem haver com equipes? Simples: é na dinâmica de equipe que você conhece a si mesmo e, conseqüentemente, é através dela que você tem contato com seus próprios obstáculos, dificuldades pessoais supremas, de forma impactante. As reações frente as dificuldades são as mais diversas e, na maioria das vezes, gera mais problemas do que soluções. Veja, por exemplo, algumas características que equipes altamente eficazes possuem:

1- Comunicação eficiente e agradável
2- Compromisso das pessoas com os objetivos
3- Compromisso das pessoas com desenvolvimento do outro
4- Oportunidade de se aperfeiçoar constantemente
5- Habilidade em enfrentar situações delicadas e de conflitos
6- Bons valores
7- Caráter

Pois bem, como compartilhar tais características se um tom de voz pode despertar uma agressão ou um silêncio perpétuo? Com quais compromissos me vinculo independente dos meus interesses pessoais? Como me deixar aprender com o outro, se não posso demonstrar fragilidade ou insegurança? Como compartilhar valores se a minha decisão é a que deve ser acatada? Como me desenvolver livremente, utilizando de todo o repertório de conhecimentos e experiências, a serviço da inovação e criatividade se tenho que lidar com a desconfiança generalizada? Percebe-se assim que a dificuldade do trabalho em equipe remete-se diretamente ao auto-conhecimento de todos os membros e, esse processo de auto-aprendizagem, ocorre em tempos e de maneiras diferentes para cada uma das pessoas, o que exige de todos um respeito particular por esse processo. Esse respeito somente é alcançável se nesse processo houver espaço para a humildade de aceitar, de esperar e de ceder, sem receio de perder, de se rebaixar ou desaparecer.

Partimos agora dos maiores problemas que envolvem as equipes de trabalho para perceber o quanto as características pessoais, de humildade e respeito, estão presentes em todas as situações.

1- Reuniões improdutivas
2- Reuniões produtivas, mas somente as reuniões o são
3- Rivalidade entre equipes
4- Confronto de personalidades
5- Comunicação ineficiente
6- Liderança falha

Exemplificando com comentários dos itens apresentados: “Nunca existe pauta para as reuniões!!”, “Muito se fala nas reuniões, mas pouco de faz”, “A concorrência entre equipes destrói a qualidade do meu trabalho”, “Nunca se entende o que o outro deseja”, “Aquela pessoa é muito difícil de lidar”, “A chefia não faz nada a respeito”, são situações onde falta o aprendizado sobre si, o conhecimento desse nosso eu, juntamente com o exercício da humildade e do respeito. Se tivermos coragem para procurar em nós aquilo que somente enxergamos no outro, talvez seja este o melhor caminho para o exercício pleno e gratificante do trabalho em equipe.

Somente com essa “dura” jornada de aprendizado, tanto técnica quanto pessoal, rumo a uma maturidade individual é o que vai permitir o desenvolvimento de uma equipe altamente eficiente, pois somente desprendido de preconceitos, medos e inseguranças, é que se pode compartilhar experiências de forma genuína, utilizando uma comunicação eficiente, pronta, aberta e direta e, ao mesmo tempo, simpática, sem correr qualquer risco, ou melhor, correndo o risco de se tornar cada vez melhor – melhor profissional, melhor pessoa.

domingo, 28 de junho de 2009

comentários sobre a matéria "De Volta ao Jogo" da revista VOCÊ S/A, de junho de 2009


Lendo a matéria “De volta ao jogo” na edição 132 da revista Você S/A de junho de 2009, me deparei com um pensamento insistente: O que, de fato, está em jogo, no jogo dos acertos e erros profissionais? Parece-me que o saber é o centro de tudo e esse saber deve, portanto, dar conta de tudo. Afinal de contas, se sei, não tem como errar, certo? Ou melhor, se errar, irei aprender com o erro, adquirir tal conhecimento que não tinha e assim não errarei novamente. Penso que talvez as coisas não sejam tão simplistas assim, pois a história pessoal de cada um nos remete a muitas situações do gênero, onde devemos desempenhar bem um papel se quisermos ganhar as coisas que tanto desejamos. Ah! Ai, meu Deus! As coisas que tanto desejamos? Será que desejamos mesmo não errar?

Isso me recorda a relação que as crianças pequenas tem com seus brinquedos. Rapidamente o que ela tem nas mãos torna-se desinteressante frente ao que a outra criança tem. Brigas constantes e choros convulsivos resultados dessas situações onde querem o que não tem, ou melhor, querem o que o outro quer. Ampliando: desejam o desejo do outro. Pois é, se formos mais além, veremos que não são somente as crianças que agem assim, ou você nunca ficou esperando que seu parceiro escolha o prato no restaurante para somente então você escolher o seu. Isso sem falar que desejo ter um carro mais bacana que o de meu vizinho, que eu sou o mais bonito dos meus irmãos, que devo estudar japonês, pois minha colega de equipe começou seu curso, ou..., ou..., ou muitas outras histórias menos previsíveis onde no fundo está o desejo inconsciente de agradar sempre, num desamparo avassalador que nos persegue, e sentir prazer já, pois não sabemos lidar com a angústia da espera, da maturação necessária.

No fim das coisas, o que percebo, é que travamos uma briga interna conosco mesmos, a fim de dar conta dos nossos desejos, sem saber de fato se sabemos o que desejamos. Assim, vejo desejos disfarçados na vida real que vem, acredito, justamente para parar o sujeito e que , infelizmente, acabam por atrapalhar seus caminhos na carreira. Vejam as considerações dos 11 comportamentos que potencializam os erros segundo a revista e a possíveis relações psicológicas dos mesmos:

1- Desorganização e falta de foco: insegurança crescente por desejar fazer um bom papel e assim ser reconhecido pelo sucesso; não consegue ver o todo e somente a si fracassando.
2- Resistência a mudanças: aceitar a palavra do outro é colocar em dúvida a própria competência.
3- Baixa tolerância para lidar com pressão: o aumento de pressão pode expor sentimentos primitivos, contribuindo para uma demonstração de si desajustada.
4- Pouco compromisso com resultados: o comprometimento revela valores próprios. Será isso um problema?
5- Falta de iniciativa: dar pouco valor a si mesmo.
6- Dificuldade para transmitir informações: desejo de controle como sobrevivência.
7- Foco excessivo no curto prazo: incapacidade de esperar uma melhor satisfação a longo prazo do que adiar a possibilidade de satisfação imediata.
8- Falta de criatividade: desejo em se apoiar em algo e não em si mesmo.
9- Competitividade excessiva: necessidade de poder e força, que remete a um ego frágil e pouco flexível.
10- Paternalismo ou autoritarismo: zonas de conforto que trazem segurança.
11- Falta de ética: submeto-me ao mundo, assim como o mundo deseja.

Não desejo aqui reduzir nossos problemas do dia-a-dia a fatores psicológicos obscuros. Acredito que o aperfeiçoamento profissional passa, necessariamente, pelo aperfeiçoamento pessoal e este, na maioria das vezes, fica escondido de baixo do tapete. Não demora muito, e somos então deparados com situações onde não nos sustentamos e perdemos algo, desapontamos alguém, erramos. Como disse Sysdney Finkelstein, na continuidade da matéria na revista, “As atitudes pregressas de uma pessoa são ótimas pistas sobre o que ela provavelmente fará no futuro”. Será que não tem como nos darmos conta disso antes? É assim tão difícil olhar porá o nosso passado e repensar o futuro antes de cometer os mesmo erros novamente, eternamente?

"Penso onde não sou; sou onde não penso" -Lacan