domingo, 19 de julho de 2009

A geração XY

A história das eras marca a presença de algo no mercado de trabalho não muito difícil de constatar: existe uma nova geração de trabalhadores nascidos no berço da globalização, do consumismo, das novas tecnologias, sem grandes bandeiras e comprometimentos. Na era digital, onde a Internet se apresenta cada vez mais acessível e rápida, essa nova geração parece que nasceu adaptada ao atual mundo veloz e de satisfações imediatas. Chamada de Y, essa geração se caracteriza pela familiaridade com as tecnologias, velocidade em suas ações e reconhecimento instantâneos. Por um lado, são fortes e boas tais características, visto que necessitamos de rapidez e desprendimento para decisões cada vez mais acertadas, encarar a tecnologia e a internet como aliadas incontestáveis e assim usufruir das “beneces” da produção de consumo. Essa geração, por outro lado, não se prende a aparentemente nada, dizem, e a falta de compromisso e tato para lidar com as outras gerações reflete um desafio enorme para as empresas e seus RHs. Afinal de contas, como manter as qualidades de todas as gerações trabalhando em conjunto com mesmos objetivos se suas personalidades estão, aparentemente, caminhando em direção opostas?

A diversidade, como bem nos mostra a vida, só traz qualidade e assim conviver com a diferença passa a ser um desafio a ser percorrido visto o crescimento pessoal que essa experiência proporciona. Se temos uma geração nova pouco tranqüila nesse “conviver” que exige, dentre outras coisas, consideração, respeito e paciência, as gerações anteriores não podem deixar de perceber que as coisas mudaram e continuam mudando a velocidades cada vez mais aceleradas. Assim, vejo que a mudanças de características entre gerações podem beneficiar e muito, não somente a organização, mas todos que nela trabalham. Afinal de contas, esse confronto possibilita o crescimento individual e profissional de seus participantes em contato freqüente e direto com novas perspectivas provenientes tanto de gente comprometida e cautelosa, como com pessoas muito ágeis e adeptas do avançar rapidamente. Se pudesse chutar, diria que o desafio atual é entender que as organizações vivem num ambiente XY e não num ambiente de confronto de gerações X e Y.

Tanto as gerações anteriores como as que ainda surgirão, irão exigir do mundo do trabalho uma maior flexibilidade e dinamismo na condução de seus objetivos. Ambas se beneficiam dessa diversidade, mas ambas enfrentam os paradigmas pessoais. Do confronto, sai a melhor resposta, e a organização ganha em administrar tais confrontos trazendo a tona os pontos positivos de cada geração a fim de se estruturar frente a velocidade de mudança do mundo pós-moderno refletido nas relações humanas presentes no ambiente de trabalho.

Resumindo: salve a geração X. Salve a geração Y. Que estejam presentes, trocando e aprendendo mutuamente. Os colegas agradecem, os objetivos também. As possibilidades se multiplicam rumo a um novo equilíbrio que pode ser saudável, menos angustiante e depressivo. Que co-existam em paz.

domingo, 12 de julho de 2009

Jim Collins e a crise "das pessoas"


Jim Collins, autor dos livros Feitas para Durar e Empresas Feitas para Vencer, está na capa da revista Exame, edição 946 de Julho de 2009. Considerado como sucessor legítimo de Peter Drucker, o maior teórico de todos os tempos, Collins discorre sobre o porquê empresas poderosas quebram e como a adversidade separa grandes líderes de executivos medíocres. Independente das considerações sobre os livros citados e alguns exemplos atuais relacionados a crise atual, a matéria apresenta algumas informações interessantes a respeito da postura profissional dos executivos por trás das organizações. Citando as últimas pesquisas de Collins para seu mais recente livro – How the Mighty Fall – , este cita 5 fases de como empresas americanas bem sucedidas fracassaram. São estas: 1) Excesso de confiança originada pelo sucesso; 2) Busca indisciplinada pelo crescimento; 3) Negação de risco; 4) Corrida pela salvação e, finalmente, 5) Irrelevância ou morte. Se observarmos com carinho as considerações de Collins sobre cada fase, perceberemos facilmente que existe um desequilíbrio nas lideranças que as levam tomar atitudes equivocadas. Parece que exagero e coragem se misturam numa visão equivocada da realidade, um embasamento seletivo da própria casa ou, se preferirem, uma falta de conhecimento sobre a própria companhia e seus colaboradores.

Pensando de outra forma, a própria desorganização externa, que está presente nos corredores internos e dados externos para quem quiser ver, se traduz como a própria desorganização interna dos líderes que, atuando por exigências equivocadas de sua personalidade, não percebem os reais destinos de suas decisões. O mais interessante, entretanto, é notar que se fala sempre que determinada empresa tomou tal atitude ou deixou de ver tal situação crítica e esquecemos que, por detrás dessa “empresa”, existe uma cultura organizacional regida por pessoas espelhadas pelas posições de lideranças de suas chefias e presidências.

Collins também identifica alguns estágios de fracassos, nivelados de 1 a 5, onde “uma empresa pode estar doente antes de aparentar fraqueza”. Apesar de suas pesquisas encontrarem retomadas extremamente positivas, ele constata que preocupação com a gestão e menos arrogância são importantes para se manter uma empresa saudável por muito tempo. Quem anda equilibrado, entendo, não precisa de medidas extravagantes e nem salvadores da pátria, mas sim foco e persistência nos valores, “refletindo e agindo com determinação”. Os extremos parecem indicar o futuro da organização, assim como os extremos na vida pessoal dos sujeitos alertam para uma calamidade anunciada.

Assim, repetimos em nossa vida profissional, a desarmonia interna existente em nós mesmos. A incapacidade de enxergar tais equívocos, dominados por forças “ocultas” irão, cedo ou tarde, se fazer presentes de forma dolorida. Os obstáculos que a vida nos proporciona são os verdadeiros testes de quanto maduro psicologicamente estamos para ter uma vida saudável e digna de ser vivida. Caso contrário, quando não aprendemos com o que está acontecendo dentro da gente, certamente, isso se refletirá fora e, inevitavelmente, de forma extremada. Aliás, se você não pára, a vida te pára, seja pelas conseqüências de tal distancia de si, seja num leito de hospital.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Trabalho em Equipe: a dificuldade em lidar com o outro reflete a falta de conhecimento sobre si mesmo.

Bem, tenho realmente pensado muito sobre os ganhos relacionados ao Trabalho em Equipe e o quanto o compromisso de pessoas com o mesmo objetivo pode realmente fazer toda a diferença em qualquer atividade produtiva. Falando assim me parece óbvia tal constatação, mas de alguma forma, temos recorrentes problemas em torno desse assunto e a necessidade de se formar pessoas com perfil de equipe parece não cessar nunca. De alguma forma, somos melhores tecnicamente do que somos em nossos relacionamentos. Nunca se falou tanto em educação e também nunca se investiu tanto em educação corporativa. As maiores e melhores empresas do mundo não investem tanto na educação de seus colaboradores a toa. Mas, afinal, o que estamos fazendo com essa educação toda se a dinâmica de se conviver com outros, na realização de projetos em equipe, continuamente se apresenta conflituosa? Parece que a educação para o relacionamento está fazendo falta, não numa perspectiva de fora para dentro, mas de dentro para fora. Como assim? Explico.

Relacionamento! Essa palavrinha traduz o sucesso ou fracasso em inúmeras situações, pessoais e profissionais, em diferentes famílias e empresas ou culturas diversas. Ironicamente não conseguimos viver sós, mas temos enormes dificuldades para estar junto. Tais dificuldades se expressam no lidar com as diferenças e esquecemos que tais diferenças é o que nos impulsionam a sermos melhores. Então está na hora de repensar nossa postura frente ao conhecimento aprendido e começar a relacionar, intimamente e humildemente, esse conhecimento com nossa personalidade. O que quero dizer é que devemos fazer uma conexão constante dos aprendizados e experiências vividas com o nosso eu verdadeiro.

Você deve estar se perguntando: Mas o que isso tem haver com equipes? Simples: é na dinâmica de equipe que você conhece a si mesmo e, conseqüentemente, é através dela que você tem contato com seus próprios obstáculos, dificuldades pessoais supremas, de forma impactante. As reações frente as dificuldades são as mais diversas e, na maioria das vezes, gera mais problemas do que soluções. Veja, por exemplo, algumas características que equipes altamente eficazes possuem:

1- Comunicação eficiente e agradável
2- Compromisso das pessoas com os objetivos
3- Compromisso das pessoas com desenvolvimento do outro
4- Oportunidade de se aperfeiçoar constantemente
5- Habilidade em enfrentar situações delicadas e de conflitos
6- Bons valores
7- Caráter

Pois bem, como compartilhar tais características se um tom de voz pode despertar uma agressão ou um silêncio perpétuo? Com quais compromissos me vinculo independente dos meus interesses pessoais? Como me deixar aprender com o outro, se não posso demonstrar fragilidade ou insegurança? Como compartilhar valores se a minha decisão é a que deve ser acatada? Como me desenvolver livremente, utilizando de todo o repertório de conhecimentos e experiências, a serviço da inovação e criatividade se tenho que lidar com a desconfiança generalizada? Percebe-se assim que a dificuldade do trabalho em equipe remete-se diretamente ao auto-conhecimento de todos os membros e, esse processo de auto-aprendizagem, ocorre em tempos e de maneiras diferentes para cada uma das pessoas, o que exige de todos um respeito particular por esse processo. Esse respeito somente é alcançável se nesse processo houver espaço para a humildade de aceitar, de esperar e de ceder, sem receio de perder, de se rebaixar ou desaparecer.

Partimos agora dos maiores problemas que envolvem as equipes de trabalho para perceber o quanto as características pessoais, de humildade e respeito, estão presentes em todas as situações.

1- Reuniões improdutivas
2- Reuniões produtivas, mas somente as reuniões o são
3- Rivalidade entre equipes
4- Confronto de personalidades
5- Comunicação ineficiente
6- Liderança falha

Exemplificando com comentários dos itens apresentados: “Nunca existe pauta para as reuniões!!”, “Muito se fala nas reuniões, mas pouco de faz”, “A concorrência entre equipes destrói a qualidade do meu trabalho”, “Nunca se entende o que o outro deseja”, “Aquela pessoa é muito difícil de lidar”, “A chefia não faz nada a respeito”, são situações onde falta o aprendizado sobre si, o conhecimento desse nosso eu, juntamente com o exercício da humildade e do respeito. Se tivermos coragem para procurar em nós aquilo que somente enxergamos no outro, talvez seja este o melhor caminho para o exercício pleno e gratificante do trabalho em equipe.

Somente com essa “dura” jornada de aprendizado, tanto técnica quanto pessoal, rumo a uma maturidade individual é o que vai permitir o desenvolvimento de uma equipe altamente eficiente, pois somente desprendido de preconceitos, medos e inseguranças, é que se pode compartilhar experiências de forma genuína, utilizando uma comunicação eficiente, pronta, aberta e direta e, ao mesmo tempo, simpática, sem correr qualquer risco, ou melhor, correndo o risco de se tornar cada vez melhor – melhor profissional, melhor pessoa.